É
fantástico a quantidade de mistérios que existem, por desvendar, nos nossos
jardins.
Desta
vez foi o Jorge que trouxe um "arni" (animal rastejante não
identificado) para a sala de aula. Media,
aproximadamente, 3 milímetros e tanto se assemelhava a uma pequena lesma como a
uma lagarta na fase inicial do seu desenvolvimento. Era branco e tinha uma
risca avermelhada que atravessava o seu corpo, longitudinalmente.
Fiquei
de tentar averiguar o que seria e... foi fácil!
Depois
de uma breve pesquisa na internet descobri que se tratava de um Dactylopius coccus, mais conhecido por
cochonilha. Dentro da classe dos insetos, as cochonilhas são classificadas na
ordem Hemiptera (são conhecidas mais
de 67.500 espécies desta ordem),
sendo parentes próximas das cigarras e dos pulgões. Medem entre 2 a 5
milímetros e a sua coloração pode ser branca, bege, avermelhada ou esverdeada.
A
morfologia de fêmeas e machos é absolutamente distinta. As fêmeas não têm asas,
nem pernas, sendo que, por isso, vivem permanentemente no mesmo local. Possuem
aparelho bucal sugador que lhes permite sugar os nutrientes de que se alimenta
das plantas hospedeiras. O seu corpo é coberto por uma substância cerosa. Os
machos têm asas e parecem pequenos mosquitos. Multiplicam-se rápida, e
abundantemente, por meio de ovos que originam larvas e, posteriormente, novas
cochonilhas. O seu predador natural é a joaninha.
Apesar
da sua pequena estatura, estes insetos podem fazer grandes estragos nos jardins
e nas produções de frutos cítricos ( plantas que apreciam muito, além dos catos).
Sendo sugadores de seiva, retiram nutrientes essenciais das plantas. Para além
disto, a cera que segregam diminui a capacidade fotossintética das plantas e
ainda facilita o ataque de fungos. Podem constituir verdadeiras pragas, o que
lhes rende muitas inimizades.
E
pronto, mais um mistério resolvido... ou talvez não...
Algumas
considerações secundárias que me foram surgindo, enquanto obtinha mais
informação sobre estes seres vivos, deixaram-me intrigada e assim... resolvi aprofundar a
minha pesquisa.
Com
o que descobri nas consultas que fui fazendo na biblioteca universal, que é a
internet, fiquei admirada, estupefacta e até... chocada. Pensei se deveria, ou
não, publicar aqui o que tanto me espantou e decidi... que sim. Eu gosto de
saber de que é feito, e de onde veio, tudo o que compro e consumo. Acho que
isso me torna mais capaz nas minhas escolhas. Mas, de facto, as letrinhas
pequeninas das embalagens de alguns produtos, nomeadamente alimentares e
cosméticos, nem sempre são legíveis sem lupa. E, quando o são, revelam-se tão
estranhas e dúbias que fico a saber quase o mesmo. Acredito que os meus alunos
do 5.º G. que durante este ano letivo, evoluíram tanto e revelaram uma
crescente consciência cívica, também sentem o mesmo. Quanto mais não seja, por
serem tão positivamente curiosos e quererem saber sempre um pouco mais do mundo
que os rodeia.
Assim,
se ainda me estás a ler e tens um estômago sensível, o melhor é passares
diretamente para a página "Borboletário" ou "Papilio
machaon", onde encontrarás imagens lindíssimas e informação fascinante.
Até breve!!!
...
E
tu? Continuas aí?! Boa, então vamos lá... e prometo não te esconder nada!
A
cochonilha é conhecida desde as civilizações Asteca e Maia, populações que
viviam antigamente no atual México. Estes povos apreciavam cores fortes e
vibrantes e o seu vestuário traduzia isso mesmo.
Imagens de Phillip Martin
Ora, naquele tempo não existiam
tinturarias, logo, onde iriam buscar os tintos que utilizavam? É fácil! Tudo o
que necessitavam era retirado da natureza e assim usavam plantas, flores e...
cochonilhas.
De facto, quando se sentem ameaçadas, as fêmeas desta espécie
produzem ácido carmínico, substância com uma acentuada tonalidade vermelha /
carmim. Este pigmento também pode ser encontrado nos ovos da mesma espécie. Os
astecas, e os maias, esmagavam estes pequenos insetos e obtinham um corante que
utilizavam para conferir a cor vermelho escuro ao seu vestuário e às suas
pinturas.
Mas
isso era antes e agora... pois... agora... é quase a mesma coisa!
Os
tempos, bem como a história das civilizações antigas, foram evoluindo e as
utilizações do corante cochonilha também. Passou a ser utilizado na cosmética e
na alimentação humana, para conferir aos alimentos o tom vermelho, tão
apelativo para os consumidores.
Durante
o período colonial mexicano, em que a Espanha regia este país, a produção de
corante cochonilha cresceu rapidamente, tornando-se o segundo produto mais
exportado pelo México, superado apenas pela prata. O corante era utilizado em
larga escala na Europa e o seu valor era tão alto no mercado industrial que o
seu preço chegou a ser negociado na Bolsa de Mercadorias de Londres e
Amesterdão.
Após
a Guerra da Independência do México, entre 1810 e 1821, o monopólio da produção
de cochonilha chegou ao fim. Produções em larga escala começaram a ser feitas noutros
locais. A demanda por cochonilha diminuiu ainda mais com o aparecimento dos
corantes sintéticos. Isto representou um grande choque para a Espanha, que além
de perder a sua maior colónia na América, viu diversas fábricas produtoras de
corante cochonilha falirem por não conseguirem competir com o seu processo
praticamente artesanal.
Devido
à forte concorrência dos produtos industrializados, a produção deste corante
praticamente parou durante o século XX e foi mantida apenas com o propósito de
manter a tradição indígena mexicana.
Parecia
o fim do corante cochonilha, mas, novas descobertas voltaram a alterar o rumo
dos acontecimentos. Os corantes sintéticos, agora amplamente utilizados, foram
alvo de estudos científicos que concluíram que poderiam ser tóxicos ou
cancerígenos e assim... voltou-se ao velhinho corante cochonilha, ainda que não
com a mesma pacificidade.
O
corante cochonilha é utilizado, na alimentação humana, para colorir produtos
tão diversos como geleias, chãs, doces, bebidas, sorvetes, sumos,
presuntos, mortadelas, salsichas e produtos lácteos.
É
tão eficaz que apenas 10 gramas de corante conseguem colorir 100 quilogramas de
produto, mas, também é facto que para obter uns míseros 450 gramas de corante é
necessário matar e esmagar, aproximadamente, 70.000 cochonilhas.
Atualmente
as pessoas são mais informadas e conscientes dos seus direitos e deveres e a
exploração deste animais levanta muitas questões.
Primeiro,
relativamente aos seus riscos para a saúde. O Grupo de Apoio às Crianças Hiperativas (Hyperactive Children's Support
Group) recomenda eliminar os produtos que contêm esse corante da dieta das
crianças com tal problema, por existirem fortes indícios de que potenciam as
dificuldades e alterações observadas. Também é apontado como causa de alergias
diversas e perturbações digestivas na população em geral.
Depois das questões de
saúde existem muitas questões éticas. Organizações de defesa dos direitos dos animais (sim, é muito
pequenino mas também é uma animal que merece ser defendido) e pessoas adeptas
do vegetarianismo criticam a prática de obtenção do corante a partir do inseto
cochonilha. Tais grupos alegam que é antiético, cruel e fútil o fato de matar
milhões de animais para tal finalidade. São muito frequentes as campanhas para
divulgar o processo de fabricação do corante carmim e promover o boicote aos
produtos que o contêm. E além do mais, é um facto que existem muitos corantes naturais
vegetais, e muito mais éticos, feitos com extratos de plantas como beterraba ou
paprica. Porque não utilizar estas alternativas?
Para terminar a
argumentação, eu também não quero comer CORPOS DE
INSETOS ESMAGADOS! Isso é NOJENTO !!!
Agora que já sabes do que se trata, podes fazer escolhas
mais conscientes e decidir o que, de facto, queres valorizar. Assim, se não
desejas pactuar com este negócio e/ou se não queres continuar a comer insetos
esmagados, deves ler atentamente os rótulos dos produtos com cores
avermelhadas. Uma coisa é certa: nenhuma empresa vai escrever, preto no
branco, o que coloca nos produtos que vende se houver a mínima possibilidade de
que isso faça os clientes rejeitarem esse mesmo produto. Por este motivo,
disfarçam o nome deste "ingrediente" com outros sinónimos. Tens de
estar com muita atenção e excluir os produtos que apresentem as seguintes
denominações: "Vermelho 4", "Vermelho 3",
"Carmim", "Cochineal", "Corante natural ", "Corante natural carmim de Cochonilha", "Corante C.I" e "Corante ou Colorizante
E120" .
Só depende de ti!!!
Professora Beatriz Alves